segunda-feira, 30 de março de 2009

“No meio do caminho”

No meio do inferno,
eu constato onde estou.

No meio do mundo,
eu constato onde estou.

No meio do nada,
eu constato onde estou...


Tomo notas,
e não acho graça nenhuma.

“En briserrateur”

“En briserrateur”

Aquela voz falando na minha cabeça
sem controle.

Aquela voz repetindo o que eu leio
sem permissão.

Aquela voz reapreciando o que escuto
até estragar.


Aquela voz que procura às cegas
sem comedimento.

Aquela voz enunciando meu fluxo
depensamento
,em tempo real:
aquela voz desanimada,
do começo ao fim.

domingo, 15 de março de 2009

Pular de paraquedas pelado

Eu quero poder pular de um avião pelado
pra poder defecar e urinar de prazer
Eu quero pular de um prédio
vestido num saco
de plástico preto
pra tentar não encardir o pavimento

“Animal que faz furos”

“Animal que faz furos”

Um punho que faz silêncio.
Uma boca que faz força.
Um estômago que faz a obrigação.
Uma pele que faz o melhor possível.
Um ator que faz sorrisos.
Uma princesa que faz sala.

Uma chama minguada e pesarosa
que se consome obrigada e amarga
que se arrasta violada
criando sulcos pesados
deixando vestígios levianos
e, enfim,
indiferentemente indiferentes
mas indiferentemente indiciais
indiferentemente lá

O aliado

Nos vales verdejantes
Dos rios intermitentes
Em terras afastadas
Cresce um negócio

Os que vivem lá perto
A muitas gerações
Que nunca escrevem nada
Colhem aquilo

Colocam em um jarro
Enterram num buraco
E dançam por cima

Depois botam no sol
Durante vários dias
E rezam em volta

Transformam em farelos
e juntam cogumelos
e gotas de sangue
de cada um deles

Depois da cerimônia,
que fazem em jejum,
a moça mais linda
que ainda for virgem
coloca a mistura
num grande cachimbo

E todos eles sentam
em volta da fogueira
Pelados
E ficam conversando
chapados por dois dias
Sem sono

Demora um ano inteiro
pra repetir a fita
e fazem sem remorso
Pois nunca houve choro
E nem ranger de dentes

Preces de si para si

Existem tantos Andrés
que eu não queria ser André;
Existem tantos Rodrigos
que eu não queria ser Rodrigo;
Existem tantos Marcelos
que eu não queria ser Marcelo;
Existem tantos Gustavos
que eu não queria ser Gustavo.
O conflito de Adônis
que é como uma raposa
que não quer as uvas verdes
porque não queria mesmo

“Crente do rabo quente”

Tem um quê de crente que me atrai
Os cabelos bem compridos
densamente cacheados
Os quadris de saia
e por vezes largos
As canelas sempre aa mostra
E os ombros quase nunca
Muitas vezes peitos
em camisas justas
Elas tocam instrumentos
Elas cantam afinado
E não deixam escapar palavras duras
Elas riem confiantes
Dão os braços uma aas outras
E é claro que elas
são felizes mesmo

sexta-feira, 6 de março de 2009

"Carta aberta aa criança morta"/ "O missivista" / "Wet Handkerchief"

"Carta aberta aa criança morta"

Querida criança morta,

Venho, por meio desta,
escrever uma cara aa você.

Atensiosamente,
(fui eu que fiz o furo
pelo qual sua vida saiu)

**

"O missivista"

Eu sou o missivista.
Eu sou aquele um
que fornica sua integridade
Que fornica sua moral
e seu amor.

Eu sou o missivista
eu sou aquele um
que fornica suas crenças
as envenena e as enche de doenças
Eu sou o desequilibrista

Eu sou o inimigo
Aquele que opta por si
Que opta por te preterir
Eu sou aquele que te relega a um segundo plano
e reserva para ti
um tratamento deshumano.

Eu sou o missivista.
Eu sou aquele um
que lida com suas fraquezas sem um pingo de respeito
Aquele que torna o ruim pior
Que transforma o desamparo em desespero

**

"Wet Handkerchief"

Eu ainda detenho minha faca
Eu ainda detenho meus cadarços
Fui eu que fiz o furo
pelo qual sua vida saiu

Eu detenho meus motivos
Eu detenho meus escrúpulos
Fui eu quem fez o furo
pelo qual sua vida saiu

Eu não tenho medo do frio
Tenho planos pro futuro
Fui eu que furei o buraco
pelo qual sua vida escapou.

quinta-feira, 5 de março de 2009

"Aplausos mais nem tanto para as pessoas mais malquistas do mundo"

Você quer comer meu cu?
Você quer quebrar meu crânio?
Quer rasgar os meus papéis?
Pôr os pés nos meus lençóis?
Ô, motoqueiro, tens orgulho?...
...de fazer tanto barulho?
Ô, menina, tá por cima?...
...da minha auto-estima?
Inimigo dos meus chapas,
por favor, senta comigo;
Namorada do meu filho,
onde quer chegar com isso?
Motoqueiro se eu te pego,
dou um chute na tua cara:
porque é que eu não evito
estar sempre por aqui?
Amanhã eu trago um livro,
e uma folha de jornal:
Quem quiser falar comigo,
vai sentar no meu chão sujo,
dar o relógio do pulso
pra marcar o meu capítulo;
Tem que olhar na minha cara
sem subir o tom de voz
e não vai ter sol no lombo
e nem frio,
nem fome,
nem vergonha.

“Guilherminho Glória à Deus e o seu verde violão”/"Satã vive"

“Guilherminho Glória à Deus e o seu verde violão” (música cristã)

Guilherminho Glória à Deus
tocava flauta e bongô
Ia na missa de domingo
com seu verde violão
Não fazia malvadezas
já que era bom cristão
Ia na missa de domingo
com seu verde violão

Guilherminho acreditava
no poder da oração
e cantava coisas lindas
com seu verde violão

Guilherminho Glória à Deus
tinha uma letra redondinha
e dava graças ao senhor
com o seu verde violão
E não desejava mal
à nenhum de seus irmãos
Ia na missa de domingo
com seu verde violão

Guilherminho afastava
a tristeza com as mãos
que geravam alegria
á partir do violão

Guilherminho Glória à Deus
Escrevia com a esquerda
e tocava superbem
com o seu verde violão
E sentia-se feliz
a cada nova boa ação
Ia na missa de domingo
com seu verde violão

E pra completar a felicidade
era querido na comunidade

**

“Satã vive”(música anticristã)

Satã vive jubiloso
E jubiloso corre e brinca
E jubiloso corre e pula
E jubiloso regozija

Satã vive, Satã reina
Salta quica, e outra vez
E jubiloso vive e reina
entre os homens outra vez

Satã tem filhos na terra
tem amigos no fundo do mar
Na procela brilha e corre
Satã tropeça e morre
e ressuscita em dois dias
só pra fazer fanfarrão

Satã passa frio ao sol
E à noite dorme ao léu
Bebe o néctar das flores
Das abelhas sorve o mel

Satã come de domingo
o pão que ele mesmo amassa
Bebe vinho feito em casa
e vomita na garrafa

Satã vive e é senhor
de cada coração
que o fogo do inferno consome
para a glória de seu nome

Satã vive e causa males
pra que todo bem exista
Traz pro fundo os patamares
pro normal virar conquista

Refórma ortográfica

Tôdasas palávras dévem sêr acentüádas

quarta-feira, 4 de março de 2009

"Que o petróleo acabará, tanto alarde já se fez, que a questão já nem assusta"

Certa vez
tinha um
es-cor-
pi-ão
no meu
cache-col
e ele
me picou,
e eu morri:
Uma história com começo meio e fim :)

“O filho do cantineiro”

Estou apaixonado
pelo filho do cantineiro
Mas o pai dele, o cantineiro
Vende bebidas alcoólicas
Vende cigarros fedorentos
Vende comidas gordurosas

“Quando eu olho (Overdosedenicotinemorre)”

Quando eu me olho
Com este cigarro
No meio dos dedos
Virando fumaça
E eu assoprando
Cigarro queimado
E vendo o cigarro
Se dissipando
Subindo e virando
Ar puro

segunda-feira, 2 de março de 2009

"Parvs Americanvs"

Eu não gosto
do meu povo
vendo sua TV.

Eu não gosto
do meu povo,
vendo sua TV.

Eu não gosto
do meu povo.
Vendo sua TV.

"Boas cópulas"

"Boas Cópulas"

Boas cópulas
era uma saudação arcaica
que já caiu de moda há tempos.
Tinha o peso de um "bom dia"
tinha o peso de um "boa sorte"
tinha o peso de um "boa viagem"

Não se surpreenda
se um velho muito velho
desses velhos que mal saem da cadeira
ainda te cumprimentar dessa maneira