sábado, 2 de setembro de 2017

"Acordar dormido pouco (alguma espécie de beleléu)"

O café é uma droga
que faz a gente pegar condicionamento
numa das situações mais pau no cu
e até achar ela legal.

Imagina a sensação, ponê-le,
de ter um filho estuprado,
na sua frente, um cônjuje,
um filho morto, ou indo pra
alguma espécie de beleléu:
na sua frente,
ou chegando a notícia depois,

imagina essa sensação
mensurada em unidades
de como é ruim
acordar sem ter dormido,
tendo dormido muito pouco.

Pô, mas a própria sensação
de acordar dormido pouco
- que muita gente até nem liga
- claro, usando café, até eu, mas
sem nunca poder,
não vale usar café,
poxa, aquela sensação de
acordar dormido pouco,

foi palco praquela

normal criancinha que eu era

cultivar aquele diálogo interno
'poxa mas eu vim aqui pra passar por isso?'
'poxa, mas eu não pedi pra nascer'
'poxa mas se eu não sinto prazer
nem nas partes boas da vida
porque eu vim aqui pra passar por isso?'

Nalguns dias até antes mesmo
de chegar de manhã no banheiro
mas no mais tardar lá por esta hora
eu já me dava conta que esta sensação
de acordar dormido pouco
nem é das piores porque passamos o ser humano.
Reconhecer isso era autocrítico e ainda
mais desalentador
não quero estar aqui, não gosto de viver.

Os pensamentos suicidas
tautológicos em uma criança
que não toma café
vem de reconhecer
que essa sensação
é banal e todos os outros
seres humanos estão por aí
tendo filhos estuprados
ou idos
para alguma espécie de beleléu
-mas pelo menos eles gostam
de alguma forma ou de outra
de algum aspecto ou outro
da vida e de estar vivo.





Nenhum comentário:

Postar um comentário